quinta-feira, 3 de abril de 2008

As bodas de ouro da esfregona (Publico - 02.04.2008 - 17h24)



Casou-se com o chão há cinquenta anos e o amor ainda dura. O segredo? Mudou a cor e a textura dos seus cabelos, flexibilizou o seu corpo, melhorou as suas técnicas, reinventou-se. A esfregona, que hoje festeja as bodas de ouro, já foi considerada como uma das melhores invenções do século XX. Uma rasteira que a vassoura certamente não esperava.Nasceu em 1958, em Saragoça, pelas mãos do espanhol Emilio Bellvis Montesano, e foi apresentada à sociedade na “Feria” da cidade, a 23 de Dezembro. Contam os filhos do inventor que, nesse mesmo ano, quando o pai patenteou a esfregona no Registo de Propriedade, o responsável disse logo que o mundo das limpezas seria revolucionado.E não estava enganado. A esfregona já vendeu mais de cem milhões de exemplares em todo o mundo, motivo suficiente para ter hoje honras de Estado. Várias personalidades do mundo empresarial, da política e do desporto da comunidade de Aragão não quiseram deixar de estar presentes na festa da “nuestra hermana”, apesar de o seu pai já ter morrido em 1993.O vereador da Economia, Habitação e Emprego do Governo de Aragão elogiou, durante a homenagem, o trabalhador “inquieto, incansável e à frente no seu tempo” que foi Emilio. E acrescentou: “Bellvis demonstrou como ninguém que a inovação é sinónimo de progresso e bem-estar”.Mas os que pensam que a invenção foi fácil estão bem enganados. A esfregona envolveu toda a família e exigiu várias visitas a fábricas de têxteis, para conseguir as fibras que mais se adequassem à profissão que o instrumento viria a ter. “Tudo começou com o balde com rodinhas”, que a acompanha sempre, explicou um dos filhos de Emilio Bellvis Montesano. Contudo, a família garante que Emilio nunca foi um especulador e conta que até ofereceu flores à Virgem del Pilar, como forma de agradecimento pelas longas noites de sono perdidas lhe terem permitido “encontrar a solução ideal para limpar o chão”.Segundo a família, agradecidas devem estar também as mulheres, que puderam passar a "esfregar o chão de pé, o que reduz as dores nas costas e nas articulações” geradas pela limpeza de joelhos, explicou um dos filhos. A higiene nos lares e nas empresas foi igualmente melhorada, dizem os "herdeiros" da esfregona.A criação está no sangue da família. O pai de Emilio foi o primeiro a fabricar a panela de pressão em Espanha. E como os filhos não saem às pedras da calçada, a família está centrada no que acredita ser um novo sucesso: um balde que filtra a água, para que esta esteja sempre limpa. A invenção, amiga do ambiente, já foi aprovada pelos ecologistas, uma vez que permite gastar menos 50 por cento de água por ano – o equivalente a duas piscinas olímpicas em cada casa.
Romana Borja-Santos
PUBLICO.PT

3 comentários:

Ivaneide Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ivaneide Mendes disse...

A primeira vista parecia uma grande brincadeira, mas para além de um texto bem construido, penso que este artigo também poderia ser usado no contexto da formação, para se avaliar o impacto de invenções, à partida, muito simples e também o facto de serem as mulheres o género mais agradecido a este tipo de evento.

Antero Ferreira disse...

Um comentário muito perspicaz! De facto a própria autora do texto, mesmo sendo uma mulher, está aqui a deixar passar inconscientemente o preconceito de que a esfregona é um objecto vocacionado para a utilização feminina.